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Estudo inédito avalia o impacto de sistemas de produção de açaí na Amazônia
Análise Econômica e de Serviços Ecossistêmicos, elaborado pelo Instituto Terroá, em cooperação com a rede setorial multiatores Diálogos Pró-Açaí, oferece novos insights para práticas sustentáveis
Amazônia, Brasil - O setor produtivo do açaí, que tem experimentado uma rápida expansão para atender ao aumento da demanda por seus frutos, o que tem transformado seus habitats florestais, agora conta com um novo estudo para orientar suas ações. Foi lançada hoje, 13 de dezembro, a publicação “Análise econômica e de serviços ecossistêmicos entre diferentes sistemas de produção de açaí – um estudo comparativo”, cujos resultados trazem esperança para o futuro da produção do fruto na Amazônia.
Realizado pelo Instituto Terroá e apoiado pelo projeto "Bioeconomia e Cadeias de Valor", uma parceria entre a GIZ e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), este estudo é um divisor de águas na compreensão dos impactos ambientais e econômicos dos diferentes métodos de produção do açaí.
Comparação de métodos de produção
O estudo concentra-se em dois sistemas de produção: o manejo de mínimo impacto e o monocultivo. De acordo com Luis Fernando Iozzi, diretor de projetos do Instituto Terroá, a publicação apresenta as análises dos impactos desses sistemas na biodiversidade, no solo, e nos serviços ecossistêmicos como polinização e armazenamento de carbono. “O manejo de mínimo impacto mostrou-se promissor, apoiando a biodiversidade e a fertilidade do solo, enquanto o monocultivo apresentou desafios significativos, incluindo a degradação do solo e impactos negativos na biodiversidade”, destaca.
Ao comparar o manejo de mínimo impacto versus o monocultivo, o estudo revela que enquanto o primeiro sustenta a biodiversidade e melhora a qualidade do solo, o segundo pode ser prejudicial a longo prazo. Iozzi afirma que o objetivo é, também, mostrar como diferentes práticas de cultivo impactam o meio ambiente e, por sua vez, a economia local. “O monocultivo, embora possa aumentar a produção inicial, diminui a biodiversidade e degrada o solo, afetando negativamente a produção futura”, comenta.
Segundo Julia Garcia, coordenadora técnica do estudo, e também coordenadora de projetos do Instituto Terroá, a publicação fornece informações e evidências sobre a importância dos sistemas de produção sustentável de açaí. “Isso pode ajudar as comunidades a entenderem os benefícios econômicos e ambientais de práticas de manejo sustentáveis, incentivando-as a adotar essas práticas”, enfatiza. Além disso, o estudo pode fornecer subsídios para a formulação de políticas e programas de apoio específicos para fortalecer e valorizar a atividade de produção de açaí nessas comunidades.
O estudo pode contribuir para alavancar práticas sustentáveis ao enfatizar a importância dos serviços ecossistêmicos fornecidos pelos sistemas de produção de açaí. “Ao atribuir valor econômico a esses serviços, é possível demonstrar aos agentes de mercado a importância de adotar medidas que promovam a conservação e valorização desses serviços. Isso pode levar a incentivos econômicos para práticas sustentáveis e fomentar a demanda por produtos provenientes de sistemas de produção que beneficiem os ecossistemas” pontua Garcia.
Implicações para a Biodiversidade e o Clima
Os sistemas de produção de açaí têm implicações diretas na biodiversidade e no clima da Amazônia. O estudo demonstra que o manejo de mínimo impacto ajuda na conservação da biodiversidade, mantendo habitats naturais e promovendo a polinização. Renata Guerreiro, coordenadora de projetos do Instituto Terroá, enfatiza: "Este método de produção é uma forma de combater as mudanças climáticas, através do sequestro de carbono e da preservação da biodiversidade”. Por outro lado, o monocultivo pode aumentar as emissões de gases de efeito estufa, além de reduzir a capacidade do solo de armazenar carbono.
A análise econômico-financeira do estudo compara as vantagens e desvantagens dos dois sistemas, fornecendo dados cruciais para políticas públicas. Os impactos esperados desse estudo nas políticas públicas são aprimorar a compreensão dos responsáveis pela formulação de políticas sobre os benefícios socioeconômicos e ambientais associados aos sistemas de produção de açaí. “Isso pode resultar no desenvolvimento de políticas e programas específicos de apoio, que visam fortalecer e valorizar a atividade de produção de açaí, além de promover práticas sustentáveis. Essas políticas podem incluir incentivos econômicos, regulamentações e medidas de conservação e gestão dos recursos naturais, beneficiando tanto as comunidades extrativistas/produtoras de açaí quanto o meio ambiente”, ratifica Julia Garcia.
Recomendações
O estudo oferece insights valiosos para a formulação de políticas públicas. “Os resultados deste estudo podem informar políticas que promovam práticas sustentáveis, oferecendo incentivos para o manejo de mínimo impacto e criando regulamentações para o monocultivo”. As políticas públicas poderiam, por exemplo, incluir subsídios para práticas sustentáveis de manejo, programas de educação e treinamento para produtores e incentivos fiscais para sistemas de produção ecologicamente corretos.
Os resultados sugerem uma transição para sistemas de manejo sustentáveis como chave para o futuro do açaí na Amazônia. A adoção desses métodos não só protege o meio ambiente, mas também oferece um caminho viável para a prosperidade econômica das comunidades locais. Este equilíbrio entre produção econômica e sustentabilidade ambiental é fundamental para a conservação dos recursos naturais e o bem-estar humano na região.
O estudo conclui com recomendações claras para a transição para práticas sustentáveis na produção de açaí. “É vital que migremos para um sistema de produção que não só preserve a Amazônia, mas também garanta a viabilidade econômica das comunidades locais”, afirma Luis Fernando Iozzi. O estudo sugere o fortalecimento de políticas de apoio à produção sustentável de açaí e a implementação de medidas que incentivem práticas de manejo responsáveis. As recomendações visam não só preservar a biodiversidade, mas também assegurar um futuro econômico sustentável para os produtores de açaí na Amazônia.
Açaí: extrativismo e tradição
O Brasil, lar de 22% da biodiversidade vegetal do planeta, tem na Amazônia seu bioma mais preservado, mas também mais ameaçado. Produtos derivados da sociobiodiversidade, como o açaí, emergem como soluções para o desenvolvimento sustentável, valorizando tanto a riqueza ambiental quanto as culturas locais. O açaí, fruto da Euterpe oleracea, não é apenas um alimento para as comunidades locais; é um pilar da economia e um símbolo da rica biodiversidade amazônica.
O açaí é fonte de renda para mais de 300 mil pessoas. A produção desse fruto, concentrada principalmente no Pará, mas também presente em outros estados, movimenta cerca de três bilhões de reais anualmente, com uma produção de 1,7 milhões de toneladas. Este produto não apenas tem uma importância econômica imensa, mas também carrega consigo uma riqueza cultural e social profunda.
Estudos destacam a importância dos sistemas agroflorestais tradicionais de açaí na conservação da biodiversidade. Estes sistemas criam habitats essenciais para espécies silvestres e são cruciais para a manutenção da diversidade biológica. Além disso, o manejo de mínimo impacto do açaí contribui significativamente para o controle natural de pragas, reduzindo a necessidade de pesticidas. O manejo sustentável do açaí também desempenha um papel fundamental na manutenção da fertilidade do solo. O cultivo de açaí em áreas de várzea melhora a ciclagem de nutrientes e a incorporação de matéria orgânica. Além disso, a polinização é outro serviço ecossistêmico crucial proporcionado pelo açaí.
“Análise econômica e de serviços ecossistêmicos entre diferentes sistemas de produção de açaí – um estudo comparativo” representa um avanço significativo no entendimento dos serviços ecossistêmicos associados à produção de açaí e seus impactos socioeconômicos. Integrando teoria e prática, este estudo abre caminho para estratégias que promovam a conservação dos recursos naturais e o bem-estar humano na Amazônia, marcando um passo crucial para o desenvolvimento sustentável da região.
Para ler o estudo, acesse o link: https://www.dialogosproacai.org.br/public/media/arquivos/1702411198-analise_economica_servios_ecossistemicos.pdf